O que é Retail Design? O que é preciso para se tornar um Retail Designer?

(e dicas pra você saber por onde começar!)

montagem e adaptação da letra e "P que é que a baiana tem", de Carmem Miranda, por Daila Lopes

E o retail designer? Porque nós, do Projeto Arquiteto 4.0, acreditamos que nem todo arquiteto é retail designer e que é necessário ir além da formação básica para se tornar um?

Neste artigo, você verá os seguintes pontos:

· Porque investir na sua carreira em retail design;

· Os diferenciais de um projeto de loja em relação a um projeto residencial que exigem um conhecimento especializado; e,

· As principais disciplinas que um retail designer deve conhecer que não são passadas na faculdade e que o diferem dos arquitetos comuns.

Porque investir se tornar um Retail Designer?

É claro que eu sou parcial neste assunto, já que eu atuo como retail designer desde 2003 e foi neste nicho que eu encontrei satisfação e retorno financeiro, mas quando eu comecei a pensar em montar o meu curso “O E$$encial do Varejo” eu fui pesquisar dados que explicassem o porquê da minha situação (e dos meus colegas que também atuam neste segmento) serem tão diferentes dos outros que atuam, especialmente, na área de interiores.

Porque eu vejo clientes dispostos a pagar R$30, 40 mil em um projeto de 300m2 de loja, mas não pagarem o mesmo valor em projetos residenciais do mesmo porte?

imagem Daila Lopes

E a resposta ficou bem clara para mim:

· Loja traz lucro, residência traz gasto. Um é investimento enquanto o outro é “custo”. Não é que eles não deem valor à uma residência de qualidade, mas a percepção e prioridade de uso do dinheiro muda; e,

· TODOS os arquitetos formados têm capacidade de projetar uma residência já que é basicamente isso que treinamos na faculdade, mas nem todos têm conhecimento para projetar lojas. É simplesmente a Lei da Oferta e da Procura.

Fora isso, segundo dados do Anuário do CAU, entre 2014 e 2018, o número de arquitetos no Brasil cresceu 34,43%, enquanto o PIB apenas 9,97% e a população meros 4,42%. Fica claro que a população e sua riqueza crescem bem menos do que a quantidade de arquitetos prontos para projetar suas casas e apartamentos.

Por outro lado, o comércio cresceu, neste mesmo período, 111, 71% (dados do IBGE). Uma situação bem diferente, não é mesmo?

Mas por que projetos de varejo exigem conhecimentos especializados? Quais as diferenças?

Vamos começar pelo mais importante: o objetivo do projeto!

Quando trabalhamos em uma residência, nosso objetivo é projetar espaços bonitos, agradáveis, confortáveis e que comportem o estilo de vida de uma pessoa ou família. Neste caso, precisamos levar em consideração apenas o gosto e a opinião deste número limitado de usuários.

Já no caso de uma loja, estamos falando de criar um espaço para um número ilimitado de usuários, pessoas diferentes, cada um com necessidades e desejos especiais, o que torna o trabalho bem mais complexo. Além disso, é preciso sim que o ambiento seja bonito, mas este não é o objetivo principal.

O gol de um retail designer é criar um ambiente propício às compras, que faça o consumidor permanecer ali o maior tempo possível de forma voluntária e, por consequência, gastar mais.

montagem Daila Lopes

Precisamos garantir que os produtos sejam expostos de forma correta e em uma quantidade compatível à operação da loja, que nem obrigue o lojista a comprar mais do que sua capacidade financeira e nem menos do que poderia porque não há equipamento suficiente.

É necessário também levar em conta a rotina dos funcionários, que permanecem dentro do ambiente 8, 10, 2 hrs todo dia. Quanto eles têm que andar para repor as peças da loja? O ambiente é quente, frio, mal ou super iluminado? Tudo isso interfere na saúde e produtividade das pessoas e no resultado da loja.

No fim das contas, enquanto o resultado de um projeto residencial é medido pela satisfação de seus proprietários (questão bastante subjetiva, aliás), o de uma loja é, em última instância, medido pelo quanto a loja vende, um parâmetro muito mais objetivo e desafiador.

Mas que, quando atingido, agrega muito valor ao nosso trabalho. Nosso projeto passa a ser “barato” em relação ao que a loja está ganhando.

Tem outro aspecto que eu considero muito importante ressaltar. Mesmo antes de sermos arquitetos ou designers, nós já vínhamos montando um repertório residencial, através dos nossos lares, das nossas famílias e amigos... mas quando se trata de loja, nós só temos a visão de cliente e, mesmo assim, a partir de uns 16/18 anos, quando nos tornamos consumidores ativos. Porém, é preciso desenvolver o olhar de dono, de lojista e isso só com a prática ou comum conhecimento mais especializado.

E o que precisamos saber para atingir este objetivo e nos tornarmos um retail designer?

imagem Daila Lopes

Quais são os conhecimentos específicos que a faculdade não nos dá que nos permite propor soluções melhores para pontos de venda?

17 anos de prática me provaram que é preciso conhecer mais do que o produto que será vendido, mais do que agradar nosso cliente lojista, estes são os pontos básicos, mas, na minha opinião, é preciso entender de:

1. Marketing

A loja em si é uma ferramenta de marketing. Por isso é extremante importante entender a estratégia de marketing da empresa.

É uma loja focada em promoções, em lançamentos, em coleções exclusivas? É uma marca que fala com seus consumidores através das redes sociais ou das mídias tradicionais? Qual a linguagem que esta marca usa, uma linguagem jovial ou mais tradicional?

São detalhes que precisam ser traduzidos no ambiente, no visual merchandising e na comunicação visual do ponto de venda para que o cliente tenha uma experiência positiva e percebe a unicidade entre o ambiente virtual e físico.

2. Operações (administração)

Qual o tipo de venda: assistida ou autosserviço? Qual a frequência e processo de reabastecimento do estoque? E os caixas, existe o auto pagamento, pagamento através de tablets ou só em móveis caixas?

Qual área com mais furto? Onde posicioná-la para minimizar estas perdas? Existe sistema de alarme, cftv?

Existe algum sistema de comunicação com o estoque que avise ao vendedor quando ele precisa repor o equipamento ou ele precisa fazer isso de tempos em tempos ou de acordo com a demanda dos clientes?

3. Comportamento do consumidor (psicologia)

Vá além do básico, saber o gênero e idade é fácil, mas e os hábitos de compras deste cliente?

Qual o horário que ele mais compra? Ele entra para passear e acaba comprando ou ele entra já com um objetivo em mente? Ele vem sozinho ou acompanhado?

O que ele evita a qualquer custo e o que o agrada e o fideliza?

4. Finanças corporativas

Varejistas sérios e estruturados têm um plano de negócios montado para cada ponto de venda antes de concretizar o aluguel do espaço e estar ciente destas condições, que incluem o payback e o ROI da loja e propor soluções que podem até acelerar este retorno fazem toda a diferença aos olhos dos lojistas.

Estes são os principais assuntos cujo conhecimento permite um olhar diferenciado sobre layouts, fachadas, iluminação, enfim todos os aspectos de um projeto comercial.

Resumo:

· Os dados econômicos mostram que o crescimento comercial é muito superior ao PIB e ao crescimento populacional., o que geram uma demanda maior pela arquitetura comercial do que pela residencial, onde a concorrência é maior.

· É preciso se especializar para atuar em retail design pois os projetos exigem um conhecimento mais profundo em diversas áreas, como, por exemplo, marketing, psicologia do consumidor, administração e finanças corporativas.

· Os objetivos de um projeto de loja são diferentes do projeto residencial e são mensuráveis, o que agrega valor ao trabalho do retail designer.

No retail design, as melhores soluções não são necessariamente as mais bonitas e nem sempre as mais baratas, mas sim as que mais vendem. Esta é o verbo que deve guiar qualquer retail designer: VENDER.

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Abraços e até a próxima.

Daila Lopes

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